Porque eu tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber (Mt 25, 35)

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sábado, 7 de junho de 2014

Pastoral de Rua e Anjos das Ruas visitam pessoas em situação de rua no Setor Norte Ferroviário 

Pastoral desenvolve ações para amenizar o sofrimento de irmãos nas ruas de Goiânia


Presente na Arquidiocese de Goiânia, a Pastoral de Rua desenvolve trabalhos junto a pessoas em situação de rua em várias paróquias. O objetivo é minimizar o sofrimento dessa população na capital com ações solidárias, por meio de doações de alimentos, vestuário, acolhida e do conforto pela Palavra de Deus.


A Pastoral atua da seguinte forma: são reunidos grupos de dez ou quinze pessoas que preparam lanches e jantares, além de roupas, calçados e cobertores para as pessoas em situação de rua. Nos fins de semana, a Pastoral vai ao encontro delas nos Setores Central, Coimbra, Norte Ferroviário, Campinas.

Pessoas em Situação de Rua

O governo federal utiliza a seguinte definição: “Grupo populacional heterogêneo que possui em comum a pobreza extrema, os vínculos familiares interrompidos ou fragilizados e a inexistência de moradia convencional regular, e que utiliza os logradouros públicos e as áreas degradas como espaço de moradia e de sustento, de forma temporária ou permanente, bem como as unidades de acolhimento para pernoite temporário ou como moradia provisória”.

Numa das visitas, a reportagem do Jornal Encontro Semanal acompanhou os Anjos das Ruas, projeto do Setor Juventude em atividade há sete anos. O local visitado, como acontece todas as noites de sexta-feira, foi a Avenida Independência, no Setor Norte Ferroviário. As pessoas já aguardavam o grupo e, quando os Anjos chegaram, já se encontrava ali a Pastoral de Rua da Paróquia Sagrada Família.

Entre uma conversa e outra, o frio chegava, mas havia cobertores novinhos para amenizá-lo; a fome era visível nos rostos de cada um e na forma de se alimentar; enquanto lanchavam, pediam música, conversa, queriam abraços, beijos e atenção. À medida que a noite se estendia, os risos, o som do violão, o alimento, os momentos de oração e a Palavra de Deus levavam aquelas pessoas a se abrir, contar suas histórias e aceitar a amizade daqueles que se faziam tão próximos de suas vidas.

André Francisco
André Francisco da Assunção, 35 anos, é um entre tantas pessoas em situação de rua. Já não se lembra exatamente como foi parar ali, mas conta que veio com os pais do município de Icó (CE) quando tinha apenas seis anos de idade. De lá para cá ganhou as ruas e delas nunca mais saiu.
Consegue serviço provisório em fazendas ao redor de Goiânia, mas logo volta para as ruas. “Quando eu canso da fazenda eu volto”, disse ele. André tem uma irmã em Anápolis, com quem pouco mantém contato. Sua mãe voltou a morar no Ceará e ele sonha em revê-la. “Se eu pudesse eu voltaria a morar com ela,
Igor Rafael 
mas não tenho dinheiro para fazer essa viagem”, conta. Para o coordenador do grupo Anjos das Ruas, o jovem Igor Rafael Pereira da Silva, “o grande motivo para irmos para as ruas é a esperança de que o mundo pode ser melhor e, para isso, precisamos dar passos”.

Maria Gorette Sousa Machado, coordenadora, há cinco anos na
Maria Gorette
Pastoral de Rua na Paróquia Sagrada Família, já testemunhou várias pessoas deixarem a vida nas ruas, fato que gratifica o trabalho desenvolvido ao longo de vários anos. “Nós trabalhamos em parceria com a Comunidade Luz da Vida, responsável pela Casa Bom Samaritano e, diversas vezes, levamos essas pessoas para essa casa de acolhida, a pedido delas mesmo. Temos casos de ex-moradores de rua que vêm às visitas conosco ajudar outros irmãos a mudarem de vida”, comemora.

A Casa Bom Samaritano acolhe pessoas em situação de rua e dependentes químicos. Está localizada no Jardim Helvécia, em Aparecida de Goiânia, tem capacidade para 73 pessoas com idade entre 18 e 60 anos e conta com atendimento ambulatorial, psicológico, assistência social, formação moral, ética e principalmente religiosa, com grupos de oração e catequese. É mantida por meio de doações.

Números

No Brasil, o marco político mais notável foi a assinatura do Decreto Presidencial nº 7.053/2009 que
instituiu a Política Nacional para a População em Situação de Rua, cuja meta é politizar a problemática da rua e buscar superar a visão de que essa população precisa somente de albergues e ações de assistência social. Um único estudo realizado pelo Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) em 2008, deu conta que no país havia 50 mil moradores de rua em 71 municípios pesquisados, desses, 23 capitais e 48 municípios com mais de 300 mil habitantes. O contingente, porém, alerta o estudo, não pode ser considerado o número total de pessoas em situação de rua.

Goiânia aderiu à Política Nacional em abril de 2013, considerando as estatísticas de óbitos nos últimos anos, em que cerca de 40 pessoas foram assassinadas nas ruas da capital desde agosto de 2012. O Comitê Gestor Municipal ‒ Comitê Pop Rua, tem a finalidade de acompanhar e monitorar a aplicação da Política Nacional para a População em Situação de Rua, e é integrado por representantes da sociedade civil e de órgãos públicos. De acordo com conselheiro do Comitê, Símaro Jordão, as drogas estão bastante ligadas às pessoas em situação de rua, problema que está nas prioridades das ações em Goiânia. “Segundo pesquisas da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, os casos investigados indicam que, aproximadamente 80% das pessoas em situação de rua estão envolvidas com o uso, tráfico ou acerto de contas no mundo das drogas, em especial o crack e nós trabalhamos para mudar esse quadro”.

Depois das ruas, a aprovação em vestibulares da UFG e IFG

Rodrigo Eugelmann
Rodrigo Eugelmann, 24 anos, começou a se envolver com as drogas muito cedo. Aos 15 anos, em São Vicente, sua cidade natal no litoral de São Paulo, ele experimentou o álcool, depois a maconha, para se entregar posteriormente ao crack. Dali foi um pulo para largar os estudos e viver nas ruas. Chegou a Goiânia de carona em um caminhão e passou a viver na Marginal Botafogo perambulando e se drogando. “A dependência química foi o fundo do poço na minha vida”, relatou em entrevista ao Jornal Encontro Semanal.

Sem perspectivas, Rodrigo buscou ajuda e em 2007 conseguiu deixar as ruas. Voltou a estudar e em 2012 foi aprovado nos vestibulares da Universidade Federal de Goiás (UFG) para o curso de Letras: Inglês e do Instituto Federal de Goiás (IFG) para História, mas, por uma pendência de notas no ensino médio não pode tomar posse das vagas.

Hoje, Rodrigo estuda inglês e espanhol e se prepara para um novo vestibular. Agora ele vai prestar o exame da Universidade de Brasília (UnB) para o curso de Comunicação Social: jornalismo. “Para isso eu estudo integralmente porque tenho um objetivo e eu sei que vou alcançar”.

As dificuldades financeiras, porém, são os maiores desafios. Por conhecer poucas pessoas na capital, Rodrigo não tem a quem recorrer, mas ressalta que não está totalmente desamparado. O seu sonho? Que alguém veja na sua história a oportunidade de ajudá-lo a concluir os estudos e que ela consiga alcançar outras pessoas que continuam nas ruas e precisam apenas de apoio.

Pastoral de Rua nas Paróquias
Paróquia Auxílio dos Cristãos
Coordenador: Vicente – 9653-4505 – quinta-feira

Paróquia Sagrada Família
Coordenadora: Maria Gorette – 8599-3627 – Sexta-feira

Paróquia Nossa Senhora Aparecida e Santa Edwiges

Coordenadora: Ivone – 8536-3254 – sábado

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