Resenha - Livro Crime e Castigo - a história de Chico Mendes sob a ótica do jornalismo

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domingo, 18 de março de 2012

Um livro que passo a passo situa o leitor no ambiente em que ocorreu a morte do maior líder seringueiro da história do Brasil, Crime e Castigo contextualiza o espaço vivido por todos aqueles que foram amigos de Chico Mendes ou o conheceram e lutaram pela causa ecológica. A astúcia do experiente jornalista, Zuenir Ventura, de forma alguma trata o seringueiro como herói nacional. Longe disso, a figura de Mendes é a mais crua definição da apuração, sob a ótica jornalística através de entrevistas com as mulheres que conviveram com Chico, os amigos de trabalho, além dos fazendeiros que viam nele apenas ambição.


Outra ótica do livro de suma importância é a capacidade do autor de dar valor às pequenas coisas evidentes nos fatos que passariam, quem sabe, despercebidas na reportagem de um jornalista inexperiente. Como exemplo, é citável o momento que Chico pega a toalha, coloca no ombro e vai tomar banho. A porta que abre pelo lado de dentro, a altura da escada que dá acesso ao quintal (Crime). Tudo isso só foi possível com a apuração minuciosa de ouvir as fontes e andar nos locais onde se passaram as cenas. Afinal, uma boa reportagem só é possível com boas entrevistas.

Dono de um poder peculiar de juntar literatura e jornalismo, Zuenir não dá somente a notícia nua e crua em suas reportagens, mas amplia seu trabalho ao primar pelo humanismo. Um exemplo disso foi que ele não só cobriu o acontecido. Na obra ele opta pela escrita em primeira e terceira pessoas do singular. Surpreende ao adotar como um dos personagens centrais de seu livro, o garoto Genésio. Crime e Castigo é também uma obra que faz o leitor caminhar junto com o autor, que faz os acontecimentos se evidenciarem ao longo das páginas sem pressa alguma, numa linearidade que leva o leitor a fluir na história sem dificuldade alguma.

A divisão do livro em três partes é um ponto positivo no trabalho do autor, pois possibilita ao leitor trilhar caminhos diferentes sem perder o rumo história. Ao invés de só se prender no assassinato do seringueiro, o leitor também se desloca à condenação dos assassinos (Castigo). Para que o trabalho tenha um desfecho digno de um documento sobre o maior líder ambiental do Brasil, Zuenir volta ao Acre, exclusivamente para escrever este livro. Agora sem o crachá do Jornal do Brasil (JB) para saber e fazer conhecer como é o estado hoje e como as pessoas assimilam a saga de Chico Mendes depois de 15 anos do assassinato.

Nessa nova viagem, sim nova porque Zuenir foi o enviado especial do JB para cobrir a morte de Chico Mendes em 1988; no novo trabalho, o autor relata o atual cenário vivido pelos seringueiros que outrora não tinham vez nem voz. Fica evidente que a causa ecológica não seria a mesma se o líder ainda estivesse vivo.




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