Resenha Livro - A Melhor TV do Mundo – O Modelo Britânico de Televisão

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sexta-feira, 23 de março de 2012

Escrito por Laurindo Lalo Leal Filho é uma obra crítica sobre televisão. O autor, por meio de quatro capítulos e a conclusão, em pouco mais de cem páginas dá conta da melhor TV do mundo e de como ela se tornou tal para os britânicos, de modo particular, e para a comunicação mundial.

Na obra, Laurindo sempre faz referência aos modelos europeus, não somente ao britânico. O objetivo é pensar as várias TVs existentes e também comparar com o modelo brasileiro. Já no prefácio, Orlando de Miranda se dirige ao leitor com a seguinte afirmação: “Descobrirá o leitor brasileiro que a Globo não é tudo, afinal. Nem a TVE é intrinsecamente tão chata como parece ser seu inexorável destino”.

Lalo Leal aprofundou seu estudo sobre a TV britânica. Resultado de uma pesquisa para o pós-doutorado, o Modelo Europeu é o primeiro capítulo do livro. Nas 11 páginas deste capítulo, Lalo fala das origens do modelo público na Europa Ocidental, no qual ele relata que a TV já surge com o objetivo de “propiciar a criação de um eleitorado mais inteligente e iluminado, tornando-se um fator de integração para a democracia”.

O que Lalo afirma no capítulo 1 é que, para ser o que é, a BBC de modo particular, se distancia de qualquer manipulação política e comercial para conseguir ser um modelo democrático. Ainda no capítulo, o autor sugere que a BBC nasceu para “indiciar a necessidade da população que precisa ser atendida”. Uma das grandes diferenças da BBC para outros modelos, como o brasileiro, é que suas receitas giram em torno de licença paga e outras formas. Não havia receitas comerciais, eis aí um fator que a tornou um bem público e democrático. No mesmo gráfico, há comparações com outros modelos. O americano, por exemplo, abastecido com doações e pelo governo.
É indispensável mencionar que o grau de interferência do governo no modelo britânico de televisão não era absoluto, mas, menos afetado pelo governo do que o modelo brasileiro ou americano. Na Europa, a TV é dirigida por um conselho cujo único interesse é “promover o serviço público”. Segundo indica o livro, se encaixam nessa estrutura: Grã-Bretanha, Austrália, Japão, Nova Zelândia, Itália e o estado de São Paulo, no Brasil.

Em outro quadro [Alemanha, Bélgica e Dinamarca] reconhece-se que os meios de comunicação são púlpitos para o debate político. “Neste caso, os conselhos diretores são formados por representantes dos principais partidos políticos e de organizações expressivas da sociedade”. Sobre este segundo modelo, o autor afirma categoricamente: “Claro que desvios são inevitáveis”.

O que a obra de Lalo Leal tem de original é a forma como percebe as estruturas dos modelos de televisão, desde sua direção, captação de recursos, programações, e formas de pressão que eles sofrem para assumir um caráter e postura.

Sobre o caso britânico, é justo citar que a publicação do livro data de 1988. E as formas de pressão começam a surgir na década de 1990. São empresários, grupos da sociedade organizada, que fazem de modo mais ou menos, a TV assumir sua postura diante da sociedade. O que foi instaurado na Inglaterra, por exemplo, é a compra desesperada de todas as formas de comunicação: livrarias, revistas semanais, diários regionais, tablóides distribuídos gratuitamente em bairros por poucos empresários. O monopólio das empresas de comunicação foi um fato consumado na Grã-Bretanha. Poucos donos, muitos meios, uma única direção da mídia. E o que sobra é uma mídia comprada e uma população sem opções.

“Até 1994 só a BBC continuava imune às investidas comerciais. Mas nem ela resistiu e acabou firmando um acordo com o Grupo Pearson para explorar um serviço internacional de televisão por satélite. Agora a emissora pública britânica terá, pela primeira vez em sua história, a possibilidade de acesso ao mercado de capitais. Até então as atividades comerciais da BBC restringiam-se à venda de programas de televisão e de publicações especializadas em rádio e TV” (Leal Filho, 30).

Apesar de já ter sido afetada pelo mercado comercial, na TV britânica continuou a predominar com o máximo de cuidado na programação. Isso porque eles consideram a TV a expressão de sua identidade. Lá, esse meio é considerado um patrimônio da nação. Com fiscalização exercida por órgão independentes das emissoras e do governo, os responsáveis acompanham tanto a qualidade da programação, quanto o encaminhamento de reclamações do público, algo até hoje impensável no Brasil. Outro fator que faz com que esse padrão de TV dê certo, se relaciona diretamente com a licença anual que as TVs públicas adquirem por meio das pessoas. Em 1995, esse valor era de US$ 135.

“Reclamações de ouvintes ou telespectadores consideradas justas pela comissão recebem desculpas públicas. Ofensas mais graves são punidas com multas ou até com a cassação da concessão” (Leal Filho, 37).

O que há de rigoroso na Inglaterra, segundo o livro de Lalo Leal, é a grande preocupação de preservar a qualidade da programação e não submeter seus telespectadores. O rigor maior se dá nos padrões de qualidade que são incontestáveis naquele país. A obra de Lalo merecia observar, mais uma vez, o modelo britânico de TV neste início de século. Agora, é indispensável saber se a BBC continua com a mesma qualidade e os mesmos ideais.

Excelente obra.





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