Resenha da Carta Encíclica Spe Salvi, sobre a Esperança Cristã

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quarta-feira, 29 de abril de 2015

Publicada em 2007, pelo sumo pontífice Bento XVI, aos bispos, presbíteros, às pessoas consagradas e a todo o Povo de Deus, a Carta Encíclica Sobre a Esperança Cristã (SPE SALVI) esclarece importantes pontos sobre a fé cristã. Dividido em sete capítulos e 81 páginas, a publicação é introduzida com a passagem da Carta de São Paulo aos Romanos (8, 24) “É na esperança que fomos salvos”.

Carregada de reflexões filosóficas e teológicas, o texto não perde a simplicidade e pode ser entendido por qualquer leigo. Segundo Bento XVI, com o dom da fé as pessoas estão munidas de uma importante arma para enfrentar o tempo presente, “ainda que custoso”. O pontífice salienta que a redenção é oferecida a todos porque nos foi dada a esperança.

Ao longo de todo o texto, fé e esperança se entrelaçam a ponto de o papa escrever que “esperança equivale à fé” e esclarece que o elemento distintivo do cristianismo é o fato de os cristãos terem um futuro, ou seja, a sua vida não acaba no vazio. O encontro com Cristo é a essência, o sentido e o fundamento da esperança. Porém, ultrapassa o entendimento humano. “A fé é a substância das coisas que se esperam; a prova das coisas que não se veem” (Santo Tomás de Aquino). O papa relata que o fato de existir um futuro além da vida na terra para os cristãos muda tudo, de modo que “o presente é tocado pela realidade futura, e assim as coisas futuras derramam-se naquelas presentes e as presentes, nas futuras”.

O texto explica também o conceito de esperança baseada sobre a fé no Novo Testamento e na Igreja primitiva; faz o questionamento “a esperança cristã é individualista?” e responde que “Feliz é o povo cujo Deus é o Senhor”, que a esperança cristã só se realiza a partir do momento que nos preocupamos com o “nós”. Para isso, orienta o Santo Padre, é importante promover a caridade, que procede de um coração puro, de uma consciência reta e de uma fé sincera (1Tm 1,5).

A vida eterna, caminho que nem todos buscam, conforme o papa afirma, por ser pensado por alguns como infinita que se tornaria fastidioso e insuportável, justamente por não ter fim, não deve ser interpretado como a vida terrena em que é calculada pelo nosso tempo cronológico, nos dias do calendário. Ele exorta que devemos pensar que é um incessante mergulhar na vastidão do ser e no amor infinito ou o instante repleto de satisfação.

Bento XVI ainda reflete sobre o sofrimento humano, ponto que ele afirma que pode ser enfrentado, mas jamais eliminado do mundo. Isso porque o sofrimento é intrínseco à vida. O motivo: a capacidade de aceitar a tribulação e nela amadurecer, cura o homem, diferente do seu evitar ou a fuga diante da dor. “Precisamente os homens, na tentativa de evitar qualquer sofrimento, procuram esquivar-se de tudo o que poderia significar padecimento, onde querem evitar a canseira e o sofrimento por causa da verdade, do amor, do bem, descambam numa vida vazia, na qual provavelmente já quase não existe dor, mas experimenta-se muito mais a obscura sensação da falta de sentido e da solidão”.

Spe Salvi é uma carta que merece ser lida por todos os cristãos, para o indispensável entender da vida cristã, da fé e da esperança. Esperança essa que nos revigora de maneira performativa (muda a vida) e não apenas informativa (comunicação de realidades). Mesmo para aqueles que fazem o seu protesto contra Deus, por causa das injustiças (pág. 68), a leitura se faz necessária para pensar sobre a verdade cristã de que, um mundo sem Deus, é um mundo sem esperança. Para entender que Deus é justiça e também graça, orienta Bento XVI, “isto podemos sabê-la fixando o olhar em Cristo crucificado e ressuscitado”.



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