Adultos na fé pelo Sacramento da Crisma

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domingo, 3 de maio de 2015

 “Nos Sacramentos, encontramos a força para pensar e agir segundo o Evangelho”, escreveu em sua conta no Twitter @Pontifex_pt o papa Francisco no último dia 23 de abril. De fato, é pelos Sacramentos que encontramos a graça e entendemos o mistério da redenção de Cristo. Neste número, abrimos as edições sobre a Confirmação ou Crisma que, conforme o Catecismo da Igreja Católica (CIC), juntamente com o Batismo e Eucaristia, constitui o conjunto dos sacramentos da Iniciação Cristã, cuja unidade deve ser assegurada.

Nas edições sobre o Batismo, foi possível entender que esse Sacramento insere a pessoa, criança ou adulto na comunidade cristã. Pela água as pessoas se tornam membros do Corpo de Cristo, Povo de Deus que é a Igreja (edição 44). Já a Crisma tem o objetivo de confirmar o Batismo, ou seja, imprimir no cristão batizado o caráter de adulto na fé e na vivência em comunidade dos ensinamentos do Evangelho. “A pessoa que recebe a Crisma está em plena posse dos mistérios da fé; ele é um inserido pleno na Igreja”, explica o padre jesuíta Nilson Maróstica, pároco da Paróquia Santa Genoveva, em Goiânia.

Segundo o CIC, o cristão que vai receber a Confirmação deve estar em estado de graça. Nesse sentido, a Igreja tem muito a contribuir. Começando pela catequese; os catequistas, de modo especial, precisam distinguir vivência do Evangelho de doutrinação. “A melhor forma de preparar para a Crisma é tomar posse do modelo adotado pelos primeiros cristãos: colocar o catequisando em contato com Jesus Cristo, que é o principal conteúdo”, diz padre Nilson. Como fazer isso? “Apresentando a vida do Jesus que curou, que cuidou das pessoas, que se preocupou com a humanidade; vamos selecionar textos do Evangelho para ensinar os jovens; ler, reler, confeccionar cartazes e discutir; saborear a Palavra como se fosse uma Leitura Orante da Bíblia; esse é o sentido”, orienta.

A doutrinação, segundo Maróstica, não leva ao “apaixonar-se por Cristo” – objetivo principal da preparação para a Crisma. “A doutrinação cansa, entristece os jovens; ensinar virtudes, quais são os pecados, os 10 Mandamentos da Lei de Deus, de maneira decorada, não é bom; tudo isso se aprende lendo livros, na internet, com a família; a vivência, por outro lado, evangeliza”, aconselha. Nesse processo, de acordo com o padre, pequenos detalhes podem fazer a diferença. “Que tal os jovens passarem por dentro da Igreja, para chegarem às salas de catequese. Esse contato é muito importante”.

A comunidade paroquial, durante essa etapa de preparação, tem um papel muito importante a prestar envolvendo os catequizandos em suas atividades, movimentos, pastorais, liturgia das missas e celebrações. Deixá-los fora da vida pastoral leva ao “desaparecimento” de tantos crismados. “Se for uma comunidade que não se preocupa com os seus catequizandos, não vai crescer nunca, não vai ter vida. É como uma mãe que não cuida dos seus filhos”. Padre Nilson fala da própria experiência na Paróquia São Leopoldo Mandic, no Setor Jaó. “Os jovens crismados desapareceram da Igreja no ano passado e eu perguntei à catequista o que houve; ela disse que ligava para os jovens, mas nada acontecia. Começamos a envolvê-los em um grupo de jovens e até hoje eles estão lá unidos e atuantes. Esse é o objetivo: o envolvimento leva à participação”. Ele diz ainda que a Igreja precisa motivar os jovens apresentando uma evangelização “apaixonada, garantindo que ali eles encontrarão a verdadeira alegria e que o encontro com o Senhor vai ser proveitoso, gostoso e salutar”.

Vanessa Cristina de Oliveira, 36 anos, da Paróquia São Judas Tadeu, se prepara para a Crisma que irá receber no fim deste ano. Sempre foi incentivada pelos pais quando ainda criança, mas afastou-se da Igreja por muito tempo. “Uma amiga que foi crismada no ano passado me incentivou e, após eu participar de um retiro, me apaixonei por Jesus e decidi crismar, porque tenho certeza de que será bom para mim e para minha família. Quero continuar e assumir a missão que Jesus me mostrar”, disse em entrevista ao Encontro Semanal. Lara Maria da Silva Pires, 14 anos, sempre participou da Igreja com o apoio da família. Ouvida, ela revelou o que a motiva a querer receber o Sacramento. “Quero crismar porque é um caminho para eu aprender mais sobre a Igreja e porque acredito que Deus tem um propósito para cada um e a Crisma ajuda a descobrirmos essa missão. Pretendo, após crismar, ajudar os novos crismandos de alguma forma”.


Crisma, extensão do Batismo

Batismo e Crisma são os mesmos Sacramentos, divididos, na Iniciação Cristã, em duas idades: infantil e adulta. Entender a diferença de um e outro é muito simples, mas é necessário voltar à história. Por que a Igreja batiza crianças? No período da Cristandade, a partir do século IV, que se estabeleceu por 16 séculos, todos eram cristãos na Europa. Batizava-se a família inteira e as criancinhas, pois era certo que todos seriam educados no Cristianismo. Quando esse período acabou, as famílias deixaram de ser preparadas para educar os filhos na fé e o sentido de batizar crianças foi se perdendo. Por isso hoje a Igreja quer inserir em todas as comunidades o Rito da Iniciação Cristã de Adultos (RICA). “Hoje batizar está se perdendo e virando apenas uma obrigação mais social que religiosa. Por isso, quando uma pessoa adulta se aproxima da Igreja e fala que gostaria de ser batizada é diferente: ela irá começar toda uma vivência dentro da comunidade, na fé, irá se abrir à evangelização e de fato irá assumir o seu Batismo”, explica. Para essa pessoa, segundo o padre, “o Batismo é assumido e, na Crisma, esse cristão assumido e apaixonado por Cristo nem precisará de catequese, pois ele já está inserido na comunidade. É um adulto na fé”.

Voltemos ao estado de graça, citado no início da reportagem. Depois de passar por uma catequese que apresenta Jesus Cristo por meio do Evangelho, que insere os crismandos nas atividades pastorais da Igreja, a pessoa estará preparada para receber a Crisma, pois ela estará apaixonada pelo Senhor. “Por si só vai dizer: ‘Eu quero ser crismado’, sem que ninguém o force, nem o obrigue. Ele não irá se crismar porque chegou a hora, mas porque ele passou por todo um processo de evangelização. O jovem terá confessado os seus pecados e estará em estado de graça para receber pela unção com o óleo do crisma, o selo do Espírito Santo”, conclui padre Nilson.



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