RICA: Viver a experiência da fé

/
domingo, 19 de abril de 2015

Nas últimas quatro edições pudemos acompanhar explanações acerca do sacramento do Batismo, porta de entrada pela qual os homens se tornam parte do corpo místico de Cristo, membros da Igreja. Nesse período, foi possível compreender o real sentido do sacramento, tudo que envolve a sua preparação e a posterior missão do batizado.  Nesta edição vamos falar a respeito do Ritual da Iniciação Cristã de Adultos (RICA), que é descrito, logo nas preliminares do documento, no que refere diretamente à iniciação cristã para adultos, como destinado “àqueles adultos que, depois de terem escutado o anúncio do mistério de Cristo, movidos pelo Espírito Santo que lhes abre o coração, consciente e livremente, buscam o Deus vivo e tomam o caminho da fé e da conversão mediante os ritos que o integram, vão sendo espiritualmente ajudados na sua preparação para, na devida altura, receberem com fruto os próprios sacramentos”. Porém, é importante ressaltar que por adulto se entende a pessoa na fase em que já tem a capacidade de fazer o uso da razão. Segundo o Código do Direito Canônico, uma criança por volta dos sete anos já se enquadra nesse perfil. Padre Arthur Freitas, administrador das paróquias São Pio X e São Pedro Apóstolo, diz que o ritual compreende o processo pelo qual se forma o cristão para, entre outras coisas, receber os sacramentos de iniciação: Batismo, Crisma e Eucaristia. E ressalta que é diferente do processo em preparação para batismo de crianças que não fazem o uso da razão, pelo tradicional curso de pais e padrinhos.

Conhecer a Cristo

O RICA foi reestabelecido pela Igreja a partir do Concílio Vaticano II, pela necessidade de uma mudança no processo catecumenal – iniciação cristã. Atualmente, diante de uma realidade muito próxima à da época apostólica, um mundo paganizado, em que as pessoas se afastaram muito de Deus e da Igreja, faz-se a retomada do RICA. Padre Arthur destaca que apesar de muitos se declararem cristãos, não conseguem relacionar a fé ao cotidiano da própria vida.  A nova evangelização precisa abarcar o grande número de pessoas que muitas vezes só procuram a Igreja já na fase adulta da vida. A transmissão da fé pela família encontra dificuldade nos dias atuais, por motivos diversos. O RICA apresenta um método e um itinerário de formação e vivência cristãs que visa, sobretudo, à formação de Cristo na pessoa, por meio de diversas etapas e ritos ao longo processo. O ritual não se restringe apenas aos não batizados, mas diz respeito a batizados que não viveram a experiência com a fé ou que precisam completar a iniciação cristã, sendo que os não batizados são chamados catecúmenos e os já batizados, catequizandos.

Estar no caminho

O Ritual de Iniciação Cristã tem a grande preocupação de não dissociar os sacramentos de iniciação e sim mostrar a unidade que existe entre eles. No processo do RICA os sacramentos são recebidos juntos na noite da Vigília Pascal. Por motivos pastorais, pela importante presença do bispo na ministração do sacramento da Crisma, é indicado que ele seja recebido durante o período pascal que se finda na Celebração de Pentecostes. Durante a formação, cada pessoa é acompanhada individualmente e existe uma participação mais efetiva da comunidade, não só os catequistas são agentes do processo catacumenal, mas toda a paróquia: ministros, padre, agentes de pastorais e a assembleia. Isso é possível porque ao longo da formação todos terão participação nos ritos de passagem, ritos de entregas e dos diversos momentos que marcam essa passagem de uma etapa para outra no caminho da vida cristã.

A Experiência da Fé

Por meio do processo catecumenal, a pessoa é colocada no “caminho”, caminho esse que padre
Arthur ressalta que não acaba nessa vida, por isso mesmo a catequese não deve ser entendida como todo, mas sim como parte desse caminhar rumo ao Pai. Segundo o padre, essa é grande diferença entre o processo hoje adotado ainda pela maioria das paróquias e o que propõe o RICA. “A catequese passa a ser parte do processo, e não o processo em si. Ela é importantíssima, porém não é tudo.

Quantas pessoas chegam à catequese sem serem evangelizadas? Sem terem recebido o Querigma – o primeiro anúncio? A catequese é o ensino progressivo da fé, mas como vou ensinar a fé para quem não tem a fé?”. O padre ainda ressalta que talvez isso seja o motivo de tantos esforços com poucos frutos, pois a fé não vem pelo conhecimento, mas pela experiência. Depois da experiência pessoal é que vem o desejo e a paixão para conhecer mais. Quanto mais se ama mais se conhece, e quanto mais se conhece mais se ama. Na atualidade não se pode pressupor que o Querigma foi apresentado em casa à criança, não se pode mais pressupor que a criança já chega à catequese com os rudimentos da fé, porque essa não é a realidade. Papa Francisco na missa que presidiu na capela da Casa de Santa Marta, no ano de 2014, destacou que “a fé confessada é vida vivida”. Espera-se que o RICA aos poucos venha substituir o processo hoje adotado nas catequeses.

Reportagem: Talita Salgado. Fotos: Caio Cézar



Os comentários serão administrados pelo autor do blog. Conteúdos ofensivos ou afirmações sem provas contra terceiros serão excluídos desta página.

Comentários