Por uma Igreja em estado permanente de missão

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sábado, 4 de outubro de 2014

A história da Igreja registra que os grandes missionários foram pessoas capazes de deixar o próprio conforto, o estilo de vida comum, para se doar ao próximo e aos projetos de Deus. Temos exemplos desse compromisso na Igreja de Goiânia, mas a realidade mostra que é preciso mais.

O estado permanente de missão supõe que a comunidade cristã tenha consciência de que ela é por sua natureza missionária (CNBB/Doc.100)

Missão pressupõe sair, renunciar ao egoísmo, ao comodismo e “lançar as redes para a pesca” (Lc 5,4-5). O decreto Ad Gentes (Para os povos), escrito pelo papa Paulo VI em 1965 exorta: “A Igreja peregrina é, por sua natureza, missionária, visto que tem a sua origem, segundo o desígnio de Deus Pai, na ‘missão’ do Filho e do Espírito Santo”.

A essência da Igreja é missionária e cabe a ela arriscar mais, ver novos horizontes, confrontar com um mundo em que 70% da população ainda não conhece Jesus Cristo, mesmo que para reverter esse quadro seja preciso se submeter a situações de desconforto e insegurança.

A Arquidiocese de Goiânia, que tem uma população estimada em 2,3 milhões de habitantes, conta com a presença de missionários vindos de outros países. É o caso do monsenhor Jean Auguste Louis Biraud, sacerdote francês que chegou ao Brasil em 1969, aos 49 anos de idade. Naquela época, havia muitos padres na Europa e era comum a maioria se tornar missionário em países distantes como a Índia e o Brasil, além de países do continente africano.

“O bispo da Diocese de Luçon, na França, se preparava para me transferir para outra paróquia e eu pedi para servir nas missões”, relembra o monsenhor. Ele respondeu ao chamado que o acompanhava desde os tempos de seminário. No mesmo navio, veio com ele mais 32 jovens missionários, entre leigos, religiosos e sacerdotes. Depois de ficar quatro meses em Petrópolis (RJ), estudando a língua portuguesa, segundo ele a maior dificuldade que encontrou no Brasil, chegou enfim a Goiânia.

Para o monsenhor Jean, não há “grandes” explicações quanto aos motivos que o levaram a se doar pelas missões. “Simplesmente eu queria me doar pelas pessoas mais pobres de alguma forma. Não fui feito para viver na França e com muita insistência consegui me tornar missionário”. O papel do missionário, segundo ele, se resume em “ficar muito próximo do povo, proporcionar o encontro com as pessoas, celebrar com as pequenas comunidades e viver de verdade a Palavra de Deus”.

Há 22 anos no Brasil, a italiana irmã Amélia Biolchi é religiosa do Instituto Abrigo Coração de Jesus.

Ao comentar sobre a escolha de se tornar missionária, ela explica que se trata de uma decisão do próprio Deus, e que consiste em seguir os passos de Jesus. “Quando foi preciso, Jesus saiu, foi lá e deu esperança e vida ao povo, assim também nós, cristãos, precisamos ser essa presença missionária no mundo”. Desde que chegou ao Brasil, a religiosa sempre atuou na Arquidiocese de Goiânia. A missão, para ela, significa “tornar mais conhecido o amor de Deus, anunciar a justiça e libertar os oprimidos”.

Mais recentemente, em 2008, chegou à Arquidiocese de Goiânia o também italiano monsenhor Carlo Tessari, 70 anos, pároco da Paróquia Santa Clara e São Francisco de Assis, no município de Aparecida de Goiânia. O sacerdote está no Brasil desde 1979, quando tinha 36 anos. Conhecer a experiência de amigos no sertão pernambucano o fez também querer tonar-se missionário. Ao lançar o seu primeiro olhar sobre aquela realidade, constatou como o povo vivia. “Era uma situação de pobreza, de carência de padres e com isso surgiu o desejo de servir à Igreja no Brasil”. Além de Goiânia, ele trabalhou por 18 anos na Diocese de Afogados da Ingazeira (PE), de 1979 a 1991; passou por uma rápida experiência na ilha de Marajó (PA), retornando àquela diocese pernambucana nos anos de 1996 a 2001. A Igreja de Goiânia, na visão dele, vive uma dimensão missionária permanente, com grandes periferias que precisam ser evangelizadas e revitalizadas. Para isso, é necessário um despertar vocacional missionário. “A Igreja precisa olhar a imensidão da messe que ainda não conhece Jesus salvador e as urgências pastorais locais não podem fechar o olhar para o tamanho universal do horizonte missionário”.

Números

A realidade da Igreja no mundo é outra, totalmente diferente daquela que o monsenhor Jean Biraud encontrou quando deixou a França. Dados da Agência Fides para o Dia Mundial das Missões de 2011 dão conta de que o número de sacerdotes no mundo aumentou em 1.427 em relação a 2010, chegando a 410.593. Mas na Europa, eles vêm diminuindo gradativamente. Em 2011 houve uma queda de 1.674 sacerdotes. Os religiosos não sacerdotes também diminuíram em 445 e os seminaristas maiores, aqueles que estudam filosofia ou teologia, também, em 347.

Sobre essa nova realidade, irmã Anna Maria Buchini, religiosa italiana que está no Brasil há 20 anos, e na Arquidiocese há oito, diz que a Igreja particular de Goiânia, precisa se preocupar. “A Igreja de Goiânia tem crescido muito ao longo de sua história missionária. Recebeu muitos missionários e hoje é capaz de lançar as redes em outros mares, deixando que outras cidades recebam missionários”. Goiânia tem hoje cerca de 40 missionários estrangeiros, sendo 20 mulheres (irmãs religiosas) e 19 homens (sacerdotes).

A Igreja não tem números exatos catalogados sobre a quantidade de missionários estrangeiros no Brasil. O Centro Cultural Missionário (CCM) de Brasília (DF), organismo de formação missionária ligado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) informou que em 2013 passaram por aquela casa 633 missionários. As Pontifícias Obras Missionárias (POM), organismo oficial da Igreja para a animação e cooperação missionária universal, faz um levantamento de missionários brasileiros no exterior. Até o momento foram catalogados 1.200. Estima-se que eles sejam em torno de 1.500 e que de 80 a 90% deles sejam religiosas.

Campanha Missionária 2014

Todos podem fazer a sua parte em prol das missões no Brasil e no mundo. As POM anualmente realiza a Campanha Missionária no mês de outubro. Neste ano, o tema é “Missão para libertar” e o lema “Enviou-me para anunciar a libertação” (Lc 4,18), em consonância com a Campanha da Fraternidade que questiona a realidade do tráfico humano. Com a Campanha Missionária, as POM juntamente com todas as dioceses do Brasil, quer intensificar as iniciativas de informação, formação, animação e cooperação, além de despertar para a vida e as vocações missionárias.

A coleta para fins missionários, de sustento das atividades de promoção humana e de evangelização em todos os continentes, acontece em todas as paróquias no fim de semana do Dia Mundial das Missões, dias 18 e 19 de outubro. O dinheiro coletado nesses dias deve ser revertido totalmente para a causa.




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