A Igreja é perseguida e massacrada no Oriente Médio

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sábado, 11 de outubro de 2014

Cristãos e outras minorias religiosas têm poucas opções: a morte, renunciar à sua fé e se converter forçadamente ao Islamismo, pagar enormes quantias em dinheiro aos extremistas ou fugir. A última tem sido a mais viável. Até agora mais de 100 mil cristãos já deixaram os seus lares em busca de paz. “Felizes os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus” (Mt 5, 10-11)

“Fugimos dos bombardeios sem nada, apenas com a roupa que vestíamos. Andamos durante horas no escuro e as crianças choravam de fome”. Essa frase é o trecho do testemunho de uma jovem cristã, grávida e mãe de três filhos, em fuga por medo dos extremistas islâmicos no Iraque. Ao todo, mais de 100 mil cristãos tiveram de deixar os seus lares, fugindo da perseguição dos radicais. Em algumas localidades, para quem não consegue fugir, as opções são a morte ou a conversão forçada ao Islamismo ou o pagamento de enormes quantias.

Os cristãos e outras minorias religiosas, no Iraque e em outros países como Síria e Turquia, são os mais afetados pelo grupo Estado Islâmico (EI) denominação de postura radical e violenta que espalha o terror no Oriente Médio, com o objetivo de criar um estado sunita, em um território na fronteira do Iraque com a Síria, governado com base na lei islâmica, a Sharia.

Na visão do professor doutor Alberto da Silva Moreira, do Núcleo de Estudos Avançados Religião e Globalização, da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC GO), a conjuntura religiosa é considerada “catastrófica, de extrema calamidade e delicada”. Isso porque além do EI, os conflitos envolvem ainda outros grupos em todo o Oriente Médio. “Na Síria, enfrentam-se diversas facções muçulmanas; em Israel, temos o bombardeio de Gaza; no Afeganistão, os talibãs já declararam apoio ao EI”. Ele explica que as religiões, nesse cenário, tem um papel fundamental.  “Os líderes religiosos precisam assumir uma tarefa pedagógica urgente, que é educação para a convivência pacífica entre religiões. O caminho é a prevenção, é o estabelecimento de pontos de contato, de troca de visitas, de engajamento em comum em vista de problemas comuns”.

Dados das Nações Unidas apontam que o número de cristãos no Iraque diminuiu em 80% nos últimos dez anos, vítimas do grupo jihadista Estado Islâmico. O medo toma conta das principais cidades do Iraque e da Síria. Neste último, o grupo tenta tomar a cidade de Kobane, defendida com dificuldades por combatentes curdos (grupo étnico que se considera nativo de diversos países no Oriente Médio) que são inferiores em número e armamento.

A Turquia promete enfrentar o EI.  Enquanto isso não acontece, os curdos estão sendo massacrados. Idris Nahsen, um dirigente local curdo, fez a seguinte declaração à agência de notícias AFP. “Desde o dia 16 de setembro defendemos Kobane. Estamos sozinhos. Pedimos à comunidade internacional que se una a nós nesta batalha contra o terrorismo e nos forneça armas e munições”, disse. “É um massacre cometido diante dos olhos do mundo inteiro”, afirmou outra testemunha, Burhan Atmaca.
“O mundo permanece em silêncio enquanto os curdos são massacrados”, denunciou.

Assim que conquista um novo território, o EI impõe a interpretação radical do Islã como aconteceu no dia 10 de junho com Mossul, cidade que fica no norte do Iraque. Essa imposição é o que mais tem matado cristãos que se negam a abandonar a sua fé. O papa Francisco, por diversas vezes tem chamado a atenção da Comunidade Internacional acerca da perseguição aos cristãos. Ao patriarca da Igreja Católica Assíria do Oriente, Mar Dinkha IV, o pontífice declarou que aquele encontro era marcado “pelo sofrimento que compartilhamos, por causa das guerras que estão atravessando o Oriente Médio”. Ele disse também que “não há razões religiosas, políticas ou econômicas que possam justificar o que está acontecendo a centenas de milhares de homens, mulheres e crianças inocentes”.

A Comunidade Internacional tem trabalhado no sentido de conter o avanço do Estado Islâmico. A coalização liderada pelos Estados Unidos oferece logística e treinamento militar às tropas iraquianas. Para o professor e doutor em geografia humana, da Universidade Federal de Goiás (UFG), essa é uma postura “intermediária”, justamente porque a situação não é facilmente contornável. “Não intervir significa permitir a atuação de outros grupos radicais islâmicos; por outro lado, intervir pode significar um envolvimento caro e penoso no que se refere a perdas de vidas humanas e gastos militares”.

Os jihadistas, por sua vez, têm respondido com mais violência. No dia 14 de setembro, o EI reivindicou a terceira decapitação de um ocidental em menos de um mês. Por último aconteceu com o agente humanitário britânico David Haines, sequestrado na Síria. Um vídeo de pouco mais de dois minutos, intitulado “Uma mensagem aos aliados dos Estados Unidos”, os extremistas ameaçam executar outro refém britânico, Alan Henning.

Para o Arcebispo de Goiânia, Dom Washington Cruz, a perseguição chega a níveis humanamente insuportáveis. Ele lembra que de novo o mundo assiste às histórias que marcaram a vida cristã nas origens da Igreja, nos primeiros séculos. “Somente a força que provém de Cristo, Senhor da Igreja, faz que tantos leigos, religiosas, bispos, padres e diáconos continuem suportando pacificamente na própria carne tanto ódio, com espírito verdadeiramente evangélico”. Ele ressalta que a Igreja quer diálogo. “A Igreja não força ninguém a se converter ao Cristianismo, como o fazem algumas correntes radicais; o que queremos é uma relação de respeito, que, como sabemos, será resultado de um amplo processo de diálogo”.

Mesmo com as ações dos radicais islâmicos ganhando destaque mundial, o professor Hoffmann, da UFG, acredita que o EI não conseguirá destruir a diversidade cultural do Oriente Médio, muito menos se expandir por todo o mundo. “Dificilmente haverá um evento com características de genocídio, pois, prontamente a coalização de potências reagiria”. De acordo com ele, os extremistas querem o controle de pontos estratégicos e não grandes extensões de terras, o que segundo ele, é denominado “conflitos assimétricos”, ou seja, o objetivo dos radicais é envolver estados e atores não estatais.
O professor Alberto também acredita ser difícil o EI crescer, mas se isso acontecer, ele diz que o grupo pode possivelmente formar uma unidade político-administrativa na região entre o Iraque e a Síria. “Se chegar a isso, o próximo passo seria a invasão do Líbano e, muito depois, por último, a guerra contra Israel. Aliás, esse é justamente o objetivo dos seus dirigentes. O Estado teria no petróleo sua principal e grande fonte de riqueza, mas também na agricultura”.

Ajuda emergencial

Com o tema “Perseguidos, mas nunca esquecidos”, a Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) realizou, nos dias 6 a 9 de outubro, a Jornada Internacional de Oração pelo Oriente Médio. A iniciativa aconteceu em várias cidades brasileiras. A AIS já enviou também mais de R$ 600.000,00 (seiscentos mil reais) desde junho, aos cristãos perseguidos no Iraque. Uma equipe do projeto está instalada naquele país para fazer as doações que chegam. As necessidades são diversas, mas as mais urgentes são água, alimentos e remédios. É importante o envio do comprovante ou repasse das informações (valor e data da doação) através do e-mail ajudairaque@ais.org.br.

Mais informações sobre o projeto e as contas para depósitos no site http://www.ais.org.br/ 

O mundo se une aos cristãos iraquianos perseguidos

Ao acessar redes sociais como o Facebook e o Instagram, por exemplo, você poderá se deparar com este símbolo: ن. Trata-se de uma letra árabe, o “nome”, que corresponde à letra “N” do alfabeto latino, que significa nazareno. Cristãos em todo o mundo manifestam com a insígnia, apoio aos iraquianos perseguidos por fanáticos do Estado Islâmico. Ao adotar o símbolo, as pessoas também declaram: “somos todos cristãos iraquianos”. Naquele país, os cristãos tiveram de escolher entre a conversão imposta, a fuga ou a morte e, para identificá-los, os extremistas marcaram todas as casas dos cristãos, muitas vezes com o símbolo escrito com um círculo. Pela primeira vez em dois mil anos não existe nenhum cristão em Mossul, cidade no norte do país, cerca de 400 km de Bagdá, capital do Iraque.



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