Pastoral da Esperança: confortar as pessoas em situação de luto também é ser cristão

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sábado, 6 de setembro de 2014

O que a Igreja tem feito para confortar as pessoas que perdem seus entes queridos? Nesse momento de dor e fragilidade, mais do que apenas os sentimentos de pesar, é indispensável abraçar, viver junto, compartilhar a dor e a esperança. A Igreja precisa começar a despertar para o drama das pessoas em situação de luto 

Com fé, no amor infinito e misericordioso do Senhor, roguemos pelo descanso eterno dos que partiram para a eternidade (Dom Washington Cruz, CP)

Todos nós, em um determinado momento, vamos nos deparar com a morte. Seja de um conhecido, de um amigo, de um familiar. A perda de alguém quase sempre acontece de forma inesperada; a dor é o primeiro sentimento que bate à porta e nos envolve; o luto pode durar dias, semanas, meses, anos e mudar as nossas vidas para sempre. Mas erguer a cabeça e reerguer o próprio sentido de viver é necessário, pois todos aqueles que estão ao nosso redor contam conosco, e a esperança em Jesus Cristo tem o poder de nos levantar para dar o próximo passo.

É neste momento, sempre difícil e amargo, que precisamos de apoio, ajuda, motivação e orações para seguir. Para compartilhar o sofrimento e ajudar a enxergar a luz da ressurreição, é que existe, na Arquidiocese de Goiânia, desde 2013, a Pastoral da Esperança. E é com ela que três famílias estão conseguindo superar a dor da perda de seus entes queridos.

Patrícia Paula Araújo, 31 anos, perdeu o sobrinho Rafael Araújo Rezende, 9 anos, em março. A criança teve uma parada cardiorrespiratória e não resistiu. Logo depois foi constatado que ele estava com dengue. Essa foi a primeira família assistida pela Pastoral da Esperança. “Nós sofremos muito; minha irmã, mãe do Rafael, não aceitava, mas o apoio e a presença da Pastoral nos fortaleceu”, relembra Patrícia. O trabalho foi tão envolvente e confortante que ela decidiu participar do grupo. “Resolvi participar porque eu senti como dói perder alguém querido, e as palavras que foram levadas à minha família me incentivaram”.

Um mês depois, Goiacy Ribeiro Coelho dos Santos, 60 anos, perdeu o esposo Adalto Pereira dos Santos, 61 anos. Ele sofria de cálculo renal e, após uma cirurgia, teve um infarto. Adalto era pai de três filhas. “Foi desesperador porque estávamos em casa esperando ele voltar depois de uma cirurgia que ocorreu bem, mas o pior aconteceu”, conta a viúva. A Pastoral da Esperança foi também o apoio dessa família. “Os membros da pastoral nos passaram segurança, paz, tranquilidade, forças. É um trabalho muito especial que precisa crescer porque ajuda muitas famílias”.

Patrícia Ribeiro e Goiacy
A filha Patrícia Ribeiro dos Santos Araújo, 34 anos, se arrepia quando fala na pastoral. “São pessoas como nós, mas que se doam e em qualquer momento que precisamos, estão disponíveis. Foi uma experiência única que continua a nos ajudar, pois os encontros e orações ainda acontecem e eles estão sempre perguntando como nós estamos”, diz emocionada.

Para a família de Lânia Machado Alcântara, 49 anos, a perda do neto Victor Hugo Alcântara, que morreu de câncer no cérebro, em maio deste ano, foi ainda mais dura. Isso porque a mãe do garoto, Francislaine Alcântara, além de não aceitar, quis cometer suicídio. “A melhor coisa que nos aconteceu foi a Pastoral aparecer em nossas vidas; nos primeiros dias, minha filha não quis aceitar, ficou revoltada, mas depois ela até participou dos encontros e orações. Isso foi muito bonito”. Lânia criou amizade com os membros da Pastoral que estão sempre em contato com ela. “É muito bom saber que existem pessoas que se importam com a nossa perda. Eu vejo um trabalho muito bonito que precisa continuar”.

A pastoral está aberta a quem quiser participar, segundo Fabiana Pires Guimarães de Morais, membro do grupo na Paróquia Santa Luzia do bairro Novo Horizonte, em Goiânia. De acordo com ela, o trabalho é simples, mas importante e está intimamente ligado ao fundamento do Cristianismo. “Nós, cristãos, cremos que a morte não é o fim e, sim, o começo de uma vida plena e definitiva junto de Deus; portanto, a Pastoral da Esperança vem, pela oração e por testemunhos, confortar e orientar os enlutados”.

Atuação

A Pastoral da Esperança arquidiocesana se reúne para formação humana, psicológica e espiritual com o coordenador, padre Elenivaldo Manoel dos Santos. O trabalho consiste em acompanhar as famílias enlutadas, desde o velório até a missa de sétimo dia. De janeiro até agora, 12 famílias já foram assistidas e, em todas elas, o trabalho tem tido continuidade com encontros frequentes para orações e leitura da Bíblia.

Um subsídio chamado “Na Casa do Pai” ajuda nos encontros para exéquias, velório, sepultamento e missa. Ele contém o roteiro para sete encontros, além de orações diversas, passagens bíblicas, cantos e ladainhas.

Missão Esperança



Acontece anualmente nos cemitérios da capital e região metropolitana, onde os membros da Pastoral organizam a assistência religiosa nas salas de velório e dinamizam os trabalhos no dia 2 de novembro, Dia de Finados. Para este ano, já começaram as inscrições dos missionários que irão participar. “Com essa ação, a Igreja se faz presente nos cemitérios organizando celebrações, acolhimento e momentos de oração”, explica padre Elenivaldo. Ano passado, cerca de 350 pessoas se envolveram e este ano a expectativa é que 500 participem. As formações para os missionários começam no dia 24 de setembro. “A Pastoral da Esperança é a porta que as pessoas em situação de luto devem encontrar aberta. A Igreja é aquela ‘hospedeira’ à qual o Bom Samaritano, que é Jesus, confia os que Ele encontra caídos e feridos”, destaca o coordenador sobre a importância do serviço.
As inscrições dos missionários podem ser feitas a partir do dia 8 de setembro na Secretaria de Pastoral Arquidiocesana. Mais informações: 3223-0758.

Fotos: Caio Cézar



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