A vida e a fé do povo nas pequenas comunidades rurais

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sábado, 13 de setembro de 2014

A renovação paroquial exige novas formas de evangelizar tanto o meio urbano como o rural. Apesar de as comunidades rurais estarem distantes dos centros urbanos, também nessas áreas crescem problemas relativos ao vínculo comunitário (CNBB/Doc. 100)

Nas cidades elas podem parecer distantes da realidade, para alguns ficou num passado remoto e outros apenas guardam na lembrança as belas celebrações a céu aberto, nas casas e em pequenas capelas. Há também as pessoas que jamais conheceram as pequenas comunidades rurais, tão peculiares no seu modo de viver a fé cristã. O certo é que pouco se ouve falar delas, mas continuam vivas e fortes.

Os 27 municípios que compõem a Arquidiocese de Goiânia contam com cerca de 114 paróquias. Só no interior elas são 23, dessas, a maior parte das pequenas comunidades rurais se concentra nos vicariatos de Inhumas e Silvânia. A Paróquia Nossa Senhora da Piedade, em Bela Vista de Goiás, a 51 km da capital, é uma delas. Ao todo são 15 comunidades rurais, sendo algumas formadas em fazendas e outras em pequenos povoados.

A menos de três meses nessa paróquia, o padre José Luiz Fernando Nascimento de Oliveira visita as comunidades rurais uma vez ao mês. Essas localidades estão distantes da sede de 8 a 30 km e as vias são todas em estradas de chão. Para o sacerdote, muito já mudou em relação às antigas comunidades rurais, mas a fé do povo continua a mesma e sempre chama a atenção. “Para mim é uma maravilha viver esse espírito; o mais bonito é a alegria e a comunhão das pessoas com as celebrações”, comenta.
Geralmente as missas nas comunidades atendidas pelo padre José Luiz acontecem à noite. Os moradores das fazendas vizinhas se reúnem em uma casa e tudo é preparado com antecedência, inclusive o momento de partilha e confraternização após as celebrações. “As pessoas organizam um grande lanche comunitário e, ao término da missa, conversam e compartilham as suas vidas”.

O que mais dificulta os trabalhos, na visão do padre José Luiz, é a falta de mais padres para atender as comunidades. “Fico triste de ter a oportunidade de visitar as comunidades apenas uma vez ao mês, pois penso que as pessoas precisam de uma atenção maior da Igreja”. Ele, no entanto, faz um balanço positivo dessas comunidades. “A gente vê que o povo tem compromisso, é temente a Deus e a vida cristã nas comunidades rurais se faz diferente, principalmente pela falta de tantas ofertas do mundo que só existem nas cidades”.

A Paróquia Nosso Senhor do Bonfim de Silvânia tem 28 comunidades, das quais 19 são rurais. As mais distantes estão a 82 km da sede. A Paróquia São João Paulo II do município de Gameleira (GO) possui oito comunidades, sendo apenas a matriz na cidade. As duas paróquias são atendidas pelo padre Jovandir Batista da Silva que mora em Silvânia. As comunidades também são visitadas uma vez ao mês. Diferente de Bela Vista de Goiás, em Gameleira todas contam com capelas e as mudanças nos últimos anos têm aparecido. “As capelas são bem cuidadas, o povo tem procurado aprender a partir dos documentos da Igreja e há forte movimentação dos casais”, comemora.

As perspectivas são positivas nesse universo de comunidades atendidas pelo padre Jovandir e outros três sacerdotes. “O povo é sempre alegre, amigo e na comunidade procuramos organizar as pastorais e movimentos no sentido de buscar o futuro sempre com otimismo”. Mas ele ressalta que a disponibilidade de padres para o serviço nas comunidades rurais tem sido um apelo que merece mais atenção. “Dos três padres que atendem essas comunidades, apenas mais um é liberado para esse serviço. A Paróquia São João Paulo II clama com urgência por um padre exclusivo para ela”.

Fé e vida

Sirlene Maria de Sousa Cordeiro, 39 anos, sempre morou em Madeira do Mocambo, município de Gameleira. Ela explica que a comunidade está viva e forte; mesmo que a presença do padre se dê uma vez ao mês, a as pessoas se reúnem semanalmente. Na visão dela, a diferença da vida cristã no meio rural para zona urbana é que as pessoas estão mais comprometidas e unidas. “Temos os círculos bíblico todas as quintas-feiras e as pessoas não faltam. Há um compromisso muito grande e quando alguém precisa de ajuda, todos estão dispostos. Vejo que nas cidades muitas pessoas praticamente não conhecem o próprio vizinho”.

Valdomiro Hermes Vitor, 54 anos, atua na comunidade Divino Pai Eterno, da Região de fazendas do João de Deus, a 20 km de Silvânia, desde a sua juventude. A maioria das pessoas ali trabalha com a produção de leite e soja para a venda e consumo próprio. As celebrações da Palavra são frequentes e o povo faz a leitura orante da Bíblia semanalmente, em encontros que reúnem cerca de 30 pessoas. Entrevistado, ele relatou a importância das pequenas comunidades rurais para a Igreja. “São como as raízes das árvores; se você cortar ela vai cair e não irá mais dar frutos. Mas se zelamos, elas vão manter toda a árvore de pé”.



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