Doação de órgãos: a Igreja é a favor?

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sábado, 19 de julho de 2014

Em um ano em que a Campanha da Fraternidade aborda o tráfico humano e reitera a luta pela dignidade das pessoas, a doação de órgãos vem ao encontro desse “sim” à vida. Enquanto o tráfico faz vítimas em todo o mundo, as doações de órgãos salvam milhares de pessoas. Em nota, a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) afirma o apoio a esse gesto e salienta: “A doação de órgãos não contraria a fé cristã na ressurreição final, pois “Deus dá vida aos mortos e chama à existência o que antes não existia” (Rm 4, 17). Todos aqueles que se dispõem a doar órgãos aos irmãos, tenham a certeza de que o amor e tudo o que se faz por amor permanecerão para sempre: “o amor jamais acabará” (1Cor 13, 8)”.

A doação de órgãos faz parte das grandes questões bioéticas enfrentadas nos dias de hoje. O padre Luiz Henrique, doutor em Teologia Moral pela Accademia Alfonsiana –Pontificia Università Lateranense, explica que “para que seja um ato de amor autêntico, a doação de órgãos deve respeitar critérios éticos objetivos que levam em consideração a vida do doador e a do receptor. Desde que tais critérios sejam respeitados, ou seja, que tal ato corresponda ao bem de quem doa e de quem recebe, a Igreja se mostra favorável à doação de órgãos”. E relembra as palavras de Bento XVI, em um Congresso Internacional a respeito do tema, em 2008: “A doação de órgãos é uma forma peculiar de testemunho de caridade”.

Os transplantes em Goiás

A Santa Casa de Misericórdia é referência em transplantes renais. Já foram realizados mais de 730 procedimentos, desde o primeiro, em 1990; só este ano foram 11. Em breve será o primeiro hospital a realizar o transplante de coração na região. A Dra. Sílvia Marçal, uma das responsáveis pelo setor de nefrologia, fala da importância do transplante: “A doação de órgãos é antes de tudo um ato de amor. Amor à criação suprema de Deus, o ser humano. Quando ocorre uma doação de órgãos, exercemos a capacidade de amar, de compartilhar e de multiplicar VIDA! Ganha o doador pelo seu altruísmo e bondade. Ganha o receptor, pois tem novamente pela mão amorosa de outrem a incrível oportunidade de “renascer”.”

Atualmente, no Estado de Goiás, são realizados transplantes de rim, pâncreas e córnea, sendo este último o mais efetuado. O Hospital das Clínicas está credenciado para o transplante de fígado e a Santa Casa está se estruturando para realizar o transplante cardíaco. A doação de órgãos no Brasil é coordenada pelo Sistema Nacional de Transplantes (SNT), do Ministério da Saúde, que é formado pelas Centrais de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos para Transplante Estaduais ou Regionais (CNCDO) e demais instituições hospitalares.

Dr. Luciano Leão, gerente da CNCDO Goiás, explica que a lista de espera é nacional, mas existe a priorização da lista estadual, que hoje tem mais de 1.550 pessoas. Ainda salienta a importância de conscientizar as famílias, uma vez que a negativa ainda é grande, mesmo quando a pessoa expressa em vida sua vontade de doar.

“Fiz o transplante de rim no ano passado. Já vivia uma vida com alimentação muito restrita e caminhava para hemodiálise, mas minha família é grande e foi muito generosa. Todos se disponibilizaram a fazer o teste de compatibilidade. Recebi o rim do meu irmão mais novo, quando já estava no limite. Hoje me sinto com uma vida nova, mesmo com o risco da rejeição (no meu caso muito pequeno). Graças ao gesto do meu irmão em me doar um rim, hoje estou bem, e estando apta, quero poder sim doar meus órgãos e retribuir aquilo que recebi!”
Dona Evangelina Mendes Alcanfor, 61 anos

Quem pode doar?

Qualquer pessoa pode doar órgãos, desde que não tenha doença infecciosa incurável ou transmissível (como a Aids) ou tenha alguma doença que prejudique o funcionamento do mesmo.

Como a doação é autorizada?

Pela legislação atual todos nós podemos ser doadores, desde que a família autorize. Por isso é muito importante que o doador fale do seu desejo aos familiares.

Posso doar órgãos em vida?

Fígado, pâncreas, rim, pulmão e medula óssea podem ser doados em vida. Todos os outros órgãos, para serem doados, precisam que o doador tenha sido diagnosticado com morte encefálica. Fora do Brasil também são feitos transplantes de estômago e intestino.

É importante saber...

A comercialização de órgão é ilegal. A pena pode chegar até 8 anos de prisão.

Reportagem: Talita Salgado



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