Uma categoria ferida a bala: o significado do assassinato do jornalista Décio Sá para a sociedade

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quarta-feira, 25 de abril de 2012

Aprendi na faculdade de comunicação social, jornalismo, que “a sociedade é maior do que o mercado. O leitor não é consumidor, mas cidadão. Jornalismo é serviço público, não espetáculo (Alberto Dines)”; que “só existem duas maneiras de fazer carreira em jornalismo: construindo uma boa reputação ou destruindo uma (Tom Wolfe)”; que o jornalismo “não tem que agradar ao dono, ao político, a nós mesmos. Tem que agradar ao público (Ricardo Kotscho) e ainda que a profissão veio para satisfazer os aflitos e afligir os satisfeitos.

O trabalho de Décio Sá, o jornalista que cobria política para o Jornal O Estado do Maranhão e blogava por conta própria, assassinado covardemente na noite de segunda-feira, 23, no bar Estrela D’alva, na Avenida Litorânea, em São Luís (MA) era dessa linha. Sem dúvida, foi a causa do seu fim. Ele era um encalço na vida de muitos políticos maranhenses que não o suportavam. Bastante lido, admirado e amado por muitos e odiado mais ainda, o seu blog http://www.blogdodecio.com.br/ denunciava desde políticos corruptos a assessores do Tribunal de Justiça do estado.

Seu trabalho, como diz a frase acima, afligia os satisfeitos do Maranhão e isso já estava injuriando poderosos há tempos. O secretário de segurança pública do Maranhão, Aluísio Mendes, suspeita que o assassinato do jornalista tenha ligação com o caso Fernanda Lages. Nos últimos dias Décio vinha publicando reportagens de um possível envolvimento de políticos maranhenses com prostituição de luxo no estado vizinho, Piauí. Segundo as evidências, Lages teria sido jogada de um prédio, de uma altura de oito metros. Ela foi encontrada morta no dia 25 de agosto do ano passado. Para ajudar nas investigações do caso, foi presa sua amiga, Nayra Veloso. Já se sabe que Nayra é conhecida de deputados maranhenses, inclusive um deles bancou advogado para a sua defesa.

Décio publicou sobre Fernanda Lages em seu blog com bastante crítica, como costumava fazer em casos polêmicos. Veja trechos de uma de suas reportagens sobre o assunto. "Pode causar surpresa no meio político local o nome dos dois deputados investigados pela Polícia Federal do Piauí por suposto envolvimento na raparigagem em Teresina desde que estourou o caso da morte da estudante Fernanda Lages. Os dois parlamentares não seriam os que a imprensa maranhense vem informando. Ambos são novinhos, metidos a santinhos, sendo um deles casado. Ai, ai, ai, ai… Tem gente que vai apanhar em casa".

O Maranhão acaba de perder um jornalista combativo e qual a resposta de nossa sociedade? Sem dúvida, a voz de Décio Sá contribuiu para que os poderosos não tivessem mais respeito com o povo maranhense, mas não foi o bastante. Sua carreira terminou precocemente. Não foi calado um jornalista, mas a liberdade de imprensa. 

Quer dizer que é um aviso para os próximos que publicarão sobre os esgotos de nosso estado, país? Jornalismo sem investigação e denúncia não é jornalismo. É relatório. As pessoas devem se manifestar sobre esse triste fim. Não basta os empresários se juntarem para pagar 100 mil reais a quem identificar o mandante do crime, pois de criminosos o país está cheio, inclusive ocupando cargos importantes que guiam nossa sociedade. É preciso mais. O que nossa justiça vai fazer? A sociedade precisa pressionar nossos representantes no legislativo, executivo e judiciário. Esse assassinato não pode mais uma vez cair no esquecimento, sob pena de nós pagarmos futuramente pela omissão com a morte de mais pessoas que lutam todos os dias por uma sociedade mais justa e igual para todos. A morte de Décio Sá reafirma a falência de nosso sistema democrático.



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