Análise do case dos desentendimentos entre o Governo e o Corpo de Bombeiros do RJ

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segunda-feira, 19 de setembro de 2011
Após mais de três meses de duração, a crise que caiu sobre o Governo do estado do Rio de Janeiro devido às reivindicações de aumento salarial e melhores condições de trabalho da categoria de soldados do Corpo de Bombeiros do estado, não deverá ter um fim próximo. Isso porque o Governo estadual se recusa a dialogar com a categoria.

Para fazer uma análise desta crise, começo dizendo o que o Governo não deveria ter feito até agora na administração da comunicação de crise: não deveria ter dito que os “bombeiros foram vândalos e irresponsáveis” após a invasão do quartel central da corporação, que “não há negociação com bombeiros”, que “não há motivo para a manifestação, uma vez que, ao contrário do que alegaram os insurgentes, o salário dos bombeiros não é o pior do Brasil. ‘Mesmo que fosse, não justificaria a entrada no quartel de maneira irresponsável, intolerável e abominável”’. (do Último Segundo, 4 de junho de 2011)

O Governo do Rio de Janeiro enfiou os pés pelas mãos e não usou nenhum dos mandamentos básicos para a gestão da comunicação de crise. Não houve cautela para observar a dimensão e o enfoque das várias respostas dadas ainda quando a situação poderia ter sido controlada, o que veio a agravar o momento com as repostas impensadas dadas pelo Governo diretamente para a categoria, ecoando pela imprensa nacional e internacional.

Ao invés de gerenciar a crise, tomar o controle da situação antes da imprensa e tratar o caso com transparência, o Governo do Rio de Janeiro partiu para a retaliação. O resultado está na imprensa: uma imagem muito arranhada por matérias negativas que mostram o despreparo das ferramentas e estratégias usadas pelo Governo do estado para resolver a crise. O governador, Sérgio Cabral, chegou a rir numa coletiva de imprensa, ao afirmar que qualquer informação sobre a situação seria dada pelo coronel Sérgio Simões, comandante-geral da corporação, nomeado pelo governador na manhã do dia 4 de junho. O episódio mostra o desdenho do governador com relação à situação.

O que deveria ter sido feito desde o início

Sob os aspectos da gestão de crises, o Governo do Rio de Janeiro deveria ter assumido o controle da situação. De que forma? Após várias convocações da corporação para um diálogo, o Governo do estado sequer respondeu, ou seja, como foi dito acima, houve desdenho de sua parte. No início da situação poderia ter havido controle. “Em entrevista no dia 12 de maio, o governador Sérgio Cabral não se mostrou preocupado com as reivindicações dos bombeiros. Segundo Cabral, o movimento não afetaria o Estado e teria sido incitado e até mesmo financiado por políticos de oposição”. (do portal R7, dia 3 de junho de 2011).

A partir do controle da situação com diálogo com a corporação e colocando propostas na mesa, a assessoria de comunicação do Governo do Rio de Janeiro deveria ter tomado a iniciativa de convocar a imprensa para dizer o que estava acontecendo, atitude que mostraria transparência e condução da situação. Como ainda era uma situação de pequenas proporções, deveria ter indicado um porta-voz que passasse credibilidade à imprensa e à população, uma pessoa com postura, autoridade, empatia, com facilidade para lidar com a imprensa.

Era indispensável também, além de controlar a situação e observar o estágio das pautas da imprensa, organizar um comitê de crise com mais pessoas aptas, preparadas e treinadas para lidar com a situação (gestão de risco), para a possível crise que viria adiante. Antes de estourar as primeiras manifestações era possível ter passado outra imagem da situação para a imprensa.

Outro passo importante seria ter sido proativa, contando tudo e depressa. A resposta mais convincente no início da situação seria ter dito que as partes estavam em diálogo e já neste momento, apresentar dados concretos da negociação através do porta-voz e do comitê de crise, iniciativa que limitaria a cobertura do evento pela imprensa já que tudo seria dado de uma vez, através de mensagens-chave, comunicando as más e boas notícias, não deixando de propiciar momentos de resposta ao Corpo de Bombeiros. Se tudo isso tivesse sido feito pelo Governo do estado do Rio de Janeiro, a situação seria outra, já que ele estaria avaliando e monitorando a situação e sempre se comunicando com o público.


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