O Brasil está preparado para ser um país de idosos?

/
sábado, 15 de novembro de 2014

“Um povo tem futuro quando caminha com a força dos jovens e dos idosos”. A frase do papa Francisco envia uma mensagem a todos os cristãos: não há futuro para os jovens sem os idosos. As palavras foram proferidas pelo pontífice na viagem de Roma ao Brasil, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude realizada no Rio de Janeiro, no ano passado.

O envelhecimento da população brasileira ganhou força nos últimos dez anos. É o que revela a Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio (Pnad) de 2012, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O grupo de idosos, aqueles que têm mais de 60 anos de idade, já soma 23,5 milhões de brasileiros, mais que o dobro de 1991 quando a faixa-etária contabilizava 10,7 milhões de pessoas.

O novo quadro levanta um debate: em termos de assistência social, respeito, serviços públicos, o Brasil está preparado para acolher de forma digna o crescente grupo da chamada terceira idade? E a Igreja, dá a devida atenção aos idosos? A reportagem do Encontro Semanal foi a campo saber dos próprios idosos como eles se veem na sociedade.

Jaime e Waldivina Lôbo

Jaime de Oliveira Lôbo, de 82 anos, é barbeiro e toma conta de um salão em frente à sua casa, no Jardim América. Diz conviver todos os dias com uma família unida de cinco filhos e oito netos, mas lembra que o seu caso é uma exceção. “Vemos muitos idosos sendo maltratados pela própria família, lhe roubam o pouco salário da aposentadoria que mal dá para os remédios, o que é lamentável”, disse. Ele também fala com tristeza sobre os idosos que são abandonados em abrigos. “Sempre vemos idosos que passam a vida cuidando dos filhos para no fim serem abandonados em abrigos, sozinhos, deve ser muito ruim”.

A esposa, Waldivina Maria Lôbo, de 76 anos, é dona de casa. Para ela, é a própria sociedade e o Poder Público que precisam repensar os direitos dos idosos. “Os hospitais são lotados, os idosos estão nas filas e o desrespeito está por toda parte, muito ainda precisa ser feito para que os idosos vivam bem”, lamenta. Participante da Paróquia São Sebastião, no Setor Jardim América, Waldivina também observa que na Igreja, mais poderia ser feito pelos idosos. “Somos bem acolhidos, mas não há uma pastoral específica para os idosos e aqui no bairro nós somos a maioria”.

Pastoral da Pessoa Idosa

A base de trabalho da pastoral é visitar domicílios, orientar e acompanhar as pessoas idosas com o objetivo de resguardar o direito dessa parcela da sociedade. Na Arquidiocese de Goiânia, a Pastoral da Pessoa Idosa está em fase de organização, para alcançar mais paróquias. Atualmente, as paróquias Divino Espírito Santo, em Goiânia; Santa Bárbara, de Santa Bárbara (GO) e Divino Pai Eterno, de Trindade (GO), desenvolvem trabalhos. “Já tivemos a pastoral implantada em mais de 20 paróquias, mas estamos nos organizando novamente para conseguir um alcance mais efetivo”, disse o coordenador Elésio Divino da Fonseca. Para isso, a pastoral irá realizar uma Assembleia Arquidiocesana no dia 6 de dezembro, das 9h às 17h, no Centro Pastoral Dom Fernando (CPDF).

O Estatuto do Idoso, no artigo 3º, pontua os deveres da sociedade para com os idosos. “É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária”.

Dados da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, sobre o envelhecimento no Brasil, registram que 68,7% dos casos de violência contra idosos acontecem por negligência; 59,3% de forma psicológica e 40,1% por abuso financeiro, econômico e patrimonial. A violência física figura com 34%.

Abrigo de Idosos


Há 37 anos, o Abrigo de Idosos São Vicente de Paulo, do Setor Americano do Brasil, na capital, acolhe idosos que chegam ao local principalmente deixados por familiares ou pelos órgãos de assistência social do Estado e do Município. Com capacidade para abrigar 75 idosos, hoje o lar acolhe 66. Segundo a diretora administrativa da casa, a voluntária Emiuza de Menezes, a maioria vem de famílias sem condições de mantê-los com os cuidados adequados. “Muitas pessoas tem a impressão de que os idosos que aqui estão foram abandonados, mas poucos sabem que cuidar de um idoso tem um custo elevado que nem todas as famílias estão preparadas”, explica.

Adelaide Aparecida Clemente de Jesus, de 54 anos, foi deixada no a abrigo por uma amiga que nunca mais voltou ao local. Ela não tem contato com nenhum parente. Entrevistada, Adelaide disse que mora na casa há 15 anos, mas afirma que já está cansada e quer deixar o lugar. “Faz muito tempo que estou aqui, já gostei muito daqui, mas cansei e quero ir embora, morar sozinha”, declarou. Questionada se conseguirá viver sozinha, a mulher respondeu de maneira firme. “É difícil, não sei como será, mas vou tentar”.

Segundo a diretora Emiuza de Menezes, o abrigo gasta, R$ 1,5 mil por idoso e R$ 120 mil por mês, dinheiro que é arrecadado pela instituição mantenedora São Vicente de Paulo (SSVP) graças à doação das pessoas.

Região Centro-Oeste

Os idosos representam 10% da população. As mulheres são 51,2% e os homens são 48,8%. No quesito educação ainda temos a terceira maior taxa analfabetismo do país, 5,8%. 56% das pessoas com mais de 60 anos desenvolvem algum tipo de ocupação. Os idosos naturais da Região Centro-Oeste são 59,9%. Nessa faixa-etária, 13,8% moram sozinhos; os idosos que moram com mais três pessoas representa a maior porcentagem da região, 25,1%.

Fotos: Caio Cézar



Os comentários serão administrados pelo autor do blog. Conteúdos ofensivos ou afirmações sem provas contra terceiros serão excluídos desta página.

Comentários