Dia de Finados: a comemoração da vitória da vida sobre a morte

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sábado, 1 de novembro de 2014

Tradição cristã milenar, o Dia de Finados é o momento de celebrar a esperança na vida eterna, sobretudo, a vitória do amor de Deus. Conforme explica o Catecismo da Igreja Católica, para além do entendimento humano, a morte ultrapassa a nossa imaginação e só se torna acessível aos que creem. Por isso, o Dia de Finados é dedicado à esperança, à fé e à caridade.

Neste fim de semana, a Igreja comemora o Dia dos Fiéis Defuntos, mais conhecido como Dia de Finados. A data, antiquíssima, remonta ao século VII, quando cristãos começaram a visitar túmulos de mártires e a rezar pelos mortos em Sevilha, na Espanha, e na Alemanha, no século IX. Já a comemoração oficial dos falecidos é devida ao abade de Cluny, Santo Odilon, em 998. Em Roma, a data só viria a ser celebrada por volta de 1311, quando foi sancionada oficialmente a memória dos falecidos.

São João Crisóstomo (349-407), bispo e doutor da Igreja, já no século IV, recomendava orar pelos falecidos. “Levemos-lhe socorro e celebremos a sua memória... Por que duvidar que as nossas oferendas em favor dos mortos lhes leva alguma consolação? Não hesitemos em socorrer os que partiram e em oferecer as nossas orações por eles”. A tradição da Igreja também tem registrado o ensinamento sobre a oração pelos mortos com Tertuliano (220) e São Cipriano (258), bispos de Cartago, um dos principais centros do cristianismo no século III.

No século XIII, o Dia de Finados passou a ser comemorado em 2 de novembro, logo depois da Festa de Todos os Santos. A Igreja encontra respaldo para rezar pelos falecidos no livro de II Macabeus 12, 43-46. “Eis por que ele mandou oferecer esse sacrifício expiatório pelos que haviam morrido, a fim de que fossem absolvidos do seu pecado”, diz um trecho da citação.

“Creio na Ressurreição da carne”

O Catecismo da Igreja Católica, por sua vez, ensina que os cristãos devem acreditar que assim como Cristo, depois da morte, aqueles que morreram na amizade do Pai também viverão para sempre com Jesus ressuscitado. Assim, toda a base da fé cristã está nesse ensinamento. “Ele, que ressuscitou Cristo Jesus de entre os mortos, também dará vida aos vossos corpos mortais, pelo seu Espírito que habita em vós” (Rm 8, 11). “É por crer nessa verdade que somos cristãos”, reitera o Catecismo. O mesmo livro também explica que a morte é o fim da peregrinação terrena, condição necessária para ressuscitar. O livro de II Timóteo 2, 11, faz a seguinte promessa: “É digna de fé esta palavra: se tiverdes morrido com Cristo, também com Ele viveremos”. Essa é a visão cristã da morte contemplada na liturgia da Igreja no momento da lembrança dos mortos, na santa missa e no Ofício Divino.

No entendimento do reitor do Seminário Maior São João Maria Vianney, padre Júlio César Gomes Moreira, a dor é inevitável quando uma pessoa perde um ente querido, mas ele ressalta que existem formas na fé de superar a tristeza. “É normal senti-la em toda sua crueza, permitindo-se derramar as lágrimas da triste saudade, mas não parar nela, isto é, não se deixar paralisar, permitindo-se continuar assumindo responsavelmente a própria vida, como dom que nos foi dado, lembrando também o que a fé nos revela: ‘com a morte a vida não nos é tirada, mas transformada’”, explica.

Marina Ferreira, de 50 anos, todos os anos visita o cemitério Parque, no setor Urias Magalhães na capital. Além de uma tradição religiosa, o Dia de Finados é para ela uma data importante de assistência espiritual aos falecidos e às famílias. “As pessoas sofrem com a perda de seus entes queridos e nesse dia podemos confortá-las, amenizar o seu sofrimento, com o evangelho de Jesus”.

Orientação cristã

Segundo o bispo auxiliar de Goiânia, Dom Waldemar Passini Dalbello, o Dia de Finados deve ser orientado pela fé, pela caridade e pela esperança cujo sentido é o próprio Cristo. “Esperamos que o perdão dos pecados por Ele merecido seja aplicado aos que o acolheram pela graça da fé e já foram chamados à presença de Deus. Outra característica da espiritualidade desse dia é a caridade. A oração fervorosa pelas almas do purgatório é um ato de grande amor, de grande caridade”.

Outro ponto que deve ser observado, segundo o bispo auxiliar, é a preparação que todo cristão deve nutrir para a realidade da morte. Ele explica que a preparação passa pelo “desapego progressivo de tudo aquilo que é diferente do amor” e que isso é conseguido através de renúncias diárias que libertam do egoísmo, da vaidade e do orgulho. “O amor ao próximo é princípio de céu na história”, ressalta.

Dom Waldemar também deixa uma mensagem de conforto às pessoas que veem a morte de forma incômoda. “Os parentes e amigos que já partiram desta vida e estão em Deus são felizes, de modo superior a qualquer felicidade terrena. Pode-se, portanto, com algum esforço, alegrar-se pela alegria que eles experimentam”.

Missão Esperança


Ao longo do Dia de Finados, missionários da Pastoral da Esperança estarão a postos nos cemitérios da capital e da região metropolitana organizando assistência religiosa. O trabalho é desenvolvido anualmente pela Arquidiocese de Goiânia. “Com essa ação, a Igreja se faz presente nos cemitérios organizando celebrações, acolhimento e momentos de oração”, explica o coordenador da Pastoral, padre Elenivaldo Manoel dos Santos.



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