Os brasileiros protestam pelo direito de protestar

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sexta-feira, 28 de junho de 2013

 Não era essa a voz da torcida que os governantes do Brasil queriam ouvir dos brasileiros. Que o diga o Rei Pelé. A bandeira que eles aguardavam tremular não era a verde e amarela que um dia levou Fernando Collor de Melo do céu ao inferno. Os rostos pintados, como diz a propaganda da cerveja Brahma, eram para ser caracterizados para seguir atrás de “engarrafamento de trios elétricos” e não de uma multidão faminta por serviços públicos de qualidade. Nada do que eles imaginavam aconteceu. Os protestos no país do futebol e do carnaval têm tirado o sono da presidente Dilma Rousseff e o presidente da FIFA, Joseph Blatter.

A luta por 20 centavos a menos no preço das passagens no transporte público em São Paulo (SP) foi apenas o início de uma revolução que não pode terminar agora. Ainda dormimos sim, pois boa parcela da população não entende os protestos, mas o certo é que a juventude tem despertado dia após dia para a busca dos seus direitos e contra o aumento sem precedentes do custo de vida no Brasil. É no mínimo curioso ver os preços lá em cima enquanto o Governo (ou governos) gastam saldos elevados com duas competições que nenhum legado deixarão em nosso país. Após a euforia, restarão apenas débitos que caberão ao contribuinte pagá-las.

O Brasil, como nenhum país do velho terceiro mundo, ou os chamados atualmente de emergentes, teve a ousadia de fazer duas extravagâncias, como bem nomeou o Jornal inglês The Guardian, de uma vez só. Copa do Mundo 2014, Olimpíadas 2016, aliás, três: Copa das Confederações 2013, mas o Brasil de Lula sim.


Os brasileiros vão às ruas também porque a Copa do Mundo Brasil 2014 é mais cara que as três últimas edições do evento, somadas. Um estudo feito pela Consultoria Legislativa do Senado Federal deu conta de que as copas do Japão e Coreia, em 2002; Alemanha, em 2006; e África do Sul, em 2010, juntas, gastaram US$ 30 bilhões (US$ 16 bilhões, US$ 6 bilhões e US$ 8 bilhões, respectivamente). O Brasil sozinho conseguirá gastar US$ 40 bilhões em meio a denúncias de corrupção e obras superfaturadas na maioria das capitais.

As Olimpíadas não ficam atrás na extravagância pública. Só o espetáculo de abertura, para se ter ideia, custará R$ 132 milhões. Trata-se da segunda abertura de jogos olímpicos mais cara da história. Pequim em 2008, gastou R$ 196 milhões. O total gasto só em cerimônias, nas Olimpíadas 2016 será de R$ 384 milhões.
 
Custos
Festa de encerramento - R$ 55 milhões
Telões e fan fests - R$ 89 milhões
Entrega de medalhas - R$ 8,5 milhões
Produtora dos eventos - R$ 55 milhões.
Os custos totais das Olimpíadas 2016 serão de R$ 9,4 bilhões. A estimativa dos gastos era de R$ 5,6 bilhões, ou seja, ficou 68% maior do que o previsto há três anos.


Os gritos dos brasileiros estão longe de ter sido motivados apenas pelas passagens do transporte público. Os jovens gritam em todo o país por questões mais profundas como os conchavos entre governantes e empresas privadas que impactam diretamente de maneira negativa na vida da população. Os manifestantes, gritam ainda, pela liberdade de se manifestar. Se conseguirem aproveitar a base que está sendo construída aos poucos com os protestos apartidários, a democracia poderá enfim virar uma nova página na história do país. Mas essa aposta é alta, pois os caras-pintadas, em 1992, conseguiram derrubar um presidente e nem por isso essa base se solidificou. Mas aquela não era a turma da internet.




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